22.12.10
20.12.10
recordações que nunca julguei recordar enquanto as vivia. nem lembrava que as lembrava.
recordo os sons, as imagens, o cheiro, a sensação.
recordo, hoje, as músicas que cantava quase antes de saber falar. cantava-as de minha melhor forma, que era igual à original. enfim, coisas que fazemos, enquanto pequenos, e que tão grandes nos são. onde viajamos com a nossa imaginação quando somos pequenos, ninguém sabe, só nós próprios. e é bom saber que, passado este tempo, ao ouvir as mesmas musicas, sou capaz de me lembrar de tudo isso. é bom saber que ainda tenho dentro de mim, bem guardada, a imaginação que tinha em criança que é, como em todas as crianças, muita.
4.12.10
quarto 210
Hoje preciso de um pois, preciso de um sim.
O que é que queres de mim, hoje sinto-me assim.
Hoje preciso de um pois, preciso de um sim.
O que é que queres de mim, hoje sinto-me assim.
Ecos de risos, sinfonias de gritos. Como sangue na
barriga de mosquitos.
Hoje preciso de mim.
Mostra o teu jogo. Eu pago para ver
linda martini
27.11.10
25.11.10
entrou um raio de um trovão em casa, pela chaminé da cozinha, e isso trouxe a nostalgia de uns tempos passados que desejava não existirem.
entrou um raio de um trovão pela chaminé da cozinha que me fez lembrar de ti, nas noites em que chegavas, já tarde, quase de dia. fez-me lembrar da tua pessoa alterada pelas substancias que a raça humana teve necessidade de inventar para se tornar mais - ou menos - humana. da mesma maneira que o raio do trovão me destruiu o telefone, as jarras de flores que gosto sempre de ter, também tu destruíste o que me levou quase a vida inteira a reunir. as fotografias da nossa vida aparente e momentaneamente feliz e paradisíaca, penduradas um pouco por todas as paredes, deitadas ao chão. todas.
entraste em casa, bateste com a porta, e logo aí me acordaste. fizeste gestos que nunca assumiria como teus. tu estavas ali, mas não eras tu. entraste, irritado, e amaldiçoando alguma coisa que nunca cheguei a perceber o que era. acendi as luzes e tu estavas encostado à porta da sala, pendurado na porta da sala. acendi as luzes todas, apesar de me custar abrir os olhos. lançaste-te na minha direcção, cambaleando furiosamente, grunhindo com ódio e eu não percebia o porquê. o porquê do teu ódio, o porquê de estares assim. lançaste-te a mim, agarraste-me como nunca me tinhas agarrado. tu querias usar-me. usar-me como tinhas prometido que nunca ias usar, usar-me como um objecto que está lá para ti. começaste querer tirar-me a roupa mas eu não queria. eu não queria ser o teu objecto de diversão, muito menos estando tu no estado em que estavas. atiraste-me para o sofá e caíste em cima de mim. e eu disse para mim mesma: 'não vais deixar isto acontecer'. empurrei-te para o chão. 'não quero ser usada por ti' gritei eu com toda a força que tinha. gritei uma e outra vez. e tu, tentavas sempre usar e abusar de mim sem eu querer. empurrei-te para o chão com mais força ainda. com a força suficiente para que tivesse tempo de me levantar e sair dali antes que tu tivesses tempo de me agarrar novamente. fugi para o quarto, fechei-me lá dentro. ouvia a casa calma, como depois do raio me ter entrado na chaminé da cozinha. ouvi todo o silencio que a casa carregava. esperei que se fizesse dia, já que não faltava muito. não te ouvia, não te sentia. saí do quarto. não estavas à porta, não estavas no corredor. comecei a sentir um arrepio espinha a cima. entrei na sala, ainda com todas as luzes acesas, e por fim vi a razão daquele silencio, de toda aquela calmaria.
estavas tu, livre de toda aquela raiva que trazias. estavas tu, livre de todas aquelas acções que não te eram normais. estavas vazio daquilo que tinhas sido, há poucos minutos, daquilo que sempre foste. tinhas um fio de sangue a sair-te da boca, um rio de sangue a sair-te da cabeça inanimada. e eu via que faltava um bocado da nossa mesa de vidro que eu não gostava nada mas que tu adoravas. cheguei ao pé de ti, na esperança que fosse só mais uma das tuas partidas de muito mau gosto, mas não. toquei-te com muito receio de que acordasses e fosses o mesmo e há pouco, com muito receio de que estivesses muito frio e que não voltasses a acordar.
estavas frio. frio como nem as minhas mão ficavam quando andava com as mão fora dos bolsos no inverno. larguei uma lágrima. outra. outra. outra. muitas, seguidas.
tive que te dizer adeus de uma forma má.
e o que me custou mais, foi que tu te despediste de mim de uma forma que eu nunca vou esquecer por ter sido tão má.
despediste-te quebrando a tua maior promessa.
adeus, que este adeus é merecido.
23.11.10
22.11.10
19.11.10
18.11.10
13.11.10
10.11.10
sonhei que tinhas ido, que alguém te tinha levado e que me tinha deixado sem ti. que me tinha deixado a mim e ao teu filho sem ti. procurei por muito sítio, todos os sítios possíveis e impossíveis. onde eu tinha quase a certeza que irias estar e onde eu achava que nunca te encontraria. nada. não te encontrei, nem ao teu olhar, nem ao teu abraço. tinha a nossa vida toda a passar-me à frente, todos os momentos. e tu já não estavas ali, deitado ao meu lado, a dormir que nem um anjo que és. levaram-te e eu sem saber para onde. o mais complicado foi explicar ao nosso filho que te tinham levado e que não sabia onde estavas. ouvi-lo a perguntar-me o que eu não tinha coragem de admitir que me perguntava.
mãe, o pai morreu?
e eu respondia que não, que isso não ia acontecer tão cedo. mas ele insistia.
mãe, fui eu que fiz mal ao pai e por isso é que ele foi embora?
não, não, não. dizia eu. não tens culpa nenhuma. mas ele insistia em dizer que se não te tinham levado pelas asneiras dele, então porque tinha sido? que mal é que ele tinha feito á vida?
e eu perguntava-me o mesmo. o que seria que eu tinha feito de mal para que me tirassem umas das coisas que mais amava? tu não estavas ali. fui à nossa casa na esperança de te ver deitado na nossa cama. nada. não estavas. doeu-me tanto. porque não sabia que pensar. tu já não estavas comigo e, por muito que eu quisesse, não podia ter a certeza que ias voltar. e o nosso filho, que lindo que ele é. vê-lo assim, daquele jeito verdadeiramente amargurado que têm as crianças.
chorei, chorei. chorei pela tua ausência forçada. pela vida que ainda não tínhamos vivido.
acordei.
e vi-te.
amo-te tanto.
nunca me deixes.
7.11.10
Change your name and find a job
Marry Jenny in the spring
Buy a dog and call him Pete
Push the children on the swings
Think about me now and then
Try to find a peaceful space
Count the days as they go by
Count the lines upon your face
Your heart beats quick and strong
Your mind pores over it all
Don't worry because no one saw me fall
6.11.10
dói-me cá dentro, dói muito. dói-me não poder ser como os outros, que têm a liberdade que têm sem que lhes cortem os sonhos e os pensamentos. porque é isso que me parece que me fazem.
todos os dias que por nós passam só passam uma vez, e é preciso manter isso na cabeça.
vou fazer 17 anos, sei que para alguns não é muito, mas, para mim, é uma vida inteira já.
já tenho noção que o tempo passa muito rápido. e, por isso mesmo, devemos aproveitar a vida a cada minuto porque nunca mais teremos a juventude que temos hoje. o que é certo é que não mo deixam fazer, não me deixam aproveitar o que me deram, o que é meu por direito. não me deixam aproveitar o tempo como eu gostaria de o fazer, nem por um dia sequer.
não me deixam celebrar, da maneira que eu quero, com quem eu quero.
assim nem vale a pena tentar nada.
pois não?
30.10.10
as 25 horas de amanha deviam ser celebradas de forma especial, segundo a segundo. sem cansaço, chatices e poluição. seriam as 25 horas mais felizes do mundo. faríamos deste dia de mudança de hora o dia universal do acto de festejar. e seriamos todos felizes, ainda que fosse só por 25 horas por ano. neste dia, estaria tudo perto, estaria tudo como cada um quisesse.
26.10.10
as palavras já não saem porque, agora que olho para trás, as palavras eram apenas uma forma de mandar as lágrimas para fora sem humedecer os olhos e a cara.
há uns tempos, talvez já longos, dependendo do que cada um considera longo, eu chorava por dentro durante todos os minutos que notava passarem por mim. e tu vieste mudar isso. vieste encontrar-me no canto escuro do meu sofrimento que eu própria criava, apenas por ser como era e por pensar nas coisas como pensava. vieste, viste-me, deste-me a mão para me levantares do chão. puseste-me a admirar um céu azul que eu pensava já não existir. ergueste-me a cabeça, limpaste as lágrimas à minha alma e fizeste-me subir ao céu. fizeste-me mergulhar naquele azul tão intenso e calmo que eu já não achava possível. vieste e limpaste-me o que tinha sujo, mesmo sem te aperceberes do que fazias. acendeste um fosforo dentro da minha cabeça e depressa a sua pequena luz iluminou também o meu coração. e depressa me tornei tua, mesmo se tu não quisesses. porque foste tu que me obrigaste a deixar de olhar o chão, foste tu que, com o todo o teu jeito, me fizeste acreditar mais em mim. foste tu que me fizeste o que sou agora, mesmo que digas que só mudei porque quis. eu quis por ti, porque vale a pena mudar por ti. foste, e ainda és, o anjo que me tirou do canto escuro e que não me deixa lá voltar, mesmo quando apetece.
por isso é que sinto que não te dou nada, porque tu me dás tanto às vezes ajo como se não bastasse. perdoa-me por isso.
como disse um dia Raul Solnado:
'há dois tipos de discurso: curto e comprido. o curto é: obrigado. o comprido é: muito obrigado.'
aplico-te o mesmo porque não sei que mais posso dizer a não ser: muito obrigado
9.10.10
pensa no que dizes , fazes e escreves. nos nomes que evocas. pensa se os conheces mesmo e não precisas de os conhecer muito para saber que quebras muitos dos seus princípios básicos.
cresce.
cresce mas não me apareças mais.
8.10.10
até já
5.10.10
Fora tu,
reles
esnobe
plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas
Charlatão da sinceridade
e tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro
Ultimatum a todos eles
E a todos que sejam como eles
Todos!
Monte de tijolos com pretensões a casa
Inútil luxo, megalomania triunfante
E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
Que nem te queria descobrir
Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular
Que confundis tudo
Vós, anarquistas deveras sinceros
Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
Para quererem deixar de trabalhar
Sim, todos vós que representais o mundo
Homens altos
Passai por baixo do meu desprezo
Passai aristocratas de tanga de ouro
Passai Frouxos
Passai radicais do pouco
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa
Descascar batatas simbólicas
Fechem-me tudo isso a chave
E deitem a chave fora
Sufoco de ter só isso a minha volta
Deixem-me respirar
Abram todas as janelas
Abram mais janelas
Do que todas as janelas que há no mundo
Nenhuma idéia grande
Nenhuma corrente política
Que soe a uma idéia grão
E o mundo quer a inteligência nova
A sensibilidade nova
O mundo tem sede de que se crie
Porque aí está apodrecer a vida
Quando muito é estrume para o futuro
O que aí está não pode durar
Porque não é nada
Eu da raça dos navegadores
Afirmo que não pode durar
Eu da raça dos descobridores
Desprezo o que seja menos
Que descobrir um novo mundo
Proclamo isso bem alto
Braços erguidos
Fitando o Atlântico
E saudando abstractamente o infinito."
Álvaro de Campos
Fernado Pessoa
1.8.10
para sempre.
e, em todas as paragens que nos apetecer parar, vamos ter a nossa casa à nossa espera, porque a nossa casa é todo o mundo, a nossa casa é o que nós quisermos. nós temos esse poder.
vamos percorrer todas as estradas, de uma ponta à outra. às vezes sempre em frente e outras fazendo inversão de marcha. mas passaremos por todas, isso é que eu tenho a certeza.
e é contigo que quero descobrir tudo aquilo que nos rodeia. é contigo que quero ter a certeza que o para sempre feliz existe. é contigo que percebo e quero continuar a perceber que o infinito é muito maior do que eu já o descubro.
sim, é contigo.
meu amor, meu anjo da guarda, deixa-me só quando já não fores feliz ao meu lado.
amo-te
28.6.10
eu só queria ter a oportunidade que fazer algumas coisas que toda a gente da minha idade, ou quase toda, faz. eu só queria essa oportunidade. e este verão ainda não começou. dói-me tanto. dói-me mesmo muito. nem todas as lágrimas que já chorei são capazes de mostrar como me dói tudo isto. como me doí estarmos quase em julho e eu não ter ido à praia como deve ser uma única vez porque os meus pais não deixam. de estarmos quase em julho e de ainda estar em ílhavo a dormir, porque o meu pai decidiu ser do contra e dizer que não vamos para a costa porque não. doem-me essas coisas do meu pai, que parece fazer de conta que nunca foi (e é) filho, que parece que nunca passou pela mesma fase que eu passei. agora diz-me, porque é que eu tenho que me submeter a isto? porque é que quando eu peço para me terem em consideração vocês parece que não ouvem, parece que não estou cá a dizer o que digo. porque é que tenho que ouvir da tua boca, mãe, que sou a razão pela qual tu e o pai discutem? porque é que o dizes? porque é que dizes que, por discutirem, qualquer dia rompem de vez? porquê? eu sou vossa filha e não devia ter que ouvir isso, muito menos da tua boca, mãe. e tu sabes, tão bem como eu, que o verão já não vai ser verão como foram os outros. já perdemos o que mais gostávamos na costa, já perdemos isso. aquele cheiro de que tanto gostamos. e porquê? porque não fomos para a costa porque o pai disse que era porque não. apenas por isso. por uma criancice do meu pai, por uma luta que ele começou e que não conseguiste superar. é injusto, para mim. não digo que não o seja para ti, não digo que não o seja para o pai. mas para mim, é. é injusto eu não poder aproveitar o que a vida me dá, o que a vida nos deu a nós porque o que temos não é apenas meu, nem apenas vosso. é de todos. e, se vocês não o querem aproveitar, têm mais que aceitar que eu quero, que eu preciso de aproveitar.não quero deixar os meus sonhos morrer. se eu não aproveitar agora, quando o farei? e dói, eu sei que vos dói ver-me crescer. eu percebo que vos seja difícil este confronto que vos faço diariamente, que vos seja difícil arranjar respostas para todas estas perguntas. eu sei que é difícil. mas também ninguém disse que seria fácil. e não se esqueçam, vocês já tiveram a minha idade, e podem lembrar-se de como isso era, e podem tentar perceber as minhas angustias, as minhas crises que são próprias da idade. mas eu nunca fui da vossa idade, nunca fui mãe nem pai, e, por muito que eu tente perceber, por muito que eu me ponha no vosso lugar, nunca vou saber o que sentem mesmo. só o vou saber quando por aí passar. mas, por favor, tentem lembrar-se de como era, quando tinham a minha idade. por muito diferentes que as coisas estejam, há delas que ficam sempre iguais.
desculpem-me por crescer, mas é assim que a natureza ordena. o tempo passa e não perdoa. mas, por favor, não ignorem as minhas mágoas e não as façam menos relevantes do que são. porque, como se devem lembrar, isto parece o fim do mundo.
27.6.10
daniela
23.6.10
Verão
21.6.10
16.6.10
14.6.10
3.6.10
26.5.10
23.5.10
19.5.10
14.5.10
30.4.10
passei a noite toda à espera de ter coragem de te tocar e de te sentir fria e morta.
o sol levantou-se de novo e eu levantei-me com ele, abri as janelas de casa e deixei que as cortinas voassem ao contrario do que tu gostavas, desculpa. voltei ao teu quarto e mantive-me à porta. não queria, mas tinha que ser. aproximei-me, em passos lentos. aproximei-me da tua cama que agora já não era tua. aproximei-me do teu corpo que agora já não era teu. estendi o braço, abri a mão por cima da tua cara.
toquei-te.
estavas fria, como sabia que ias estar mas como eu não queria que estivesses, como eu não queria acreditar que estivesses.
arrepiei-me.
de repente, tive a sensação de te ver sorrir, apesar de tudo. vi a tua expressão mudar. acho que nunca te tinha dito:
gosto muito de ti
disse-te nesse momento que já era tardio. 'mais vale tarde que nunca' mas aquele momento já tinha passado para lá do tarde, para lá do nunca. depois chamei alguém que me pudesse dizer o que podia fazer, aquela era a minha primeira morte. vieram buscar o que restava de ti mas que já não era teu. já não era de ninguém. morreste.
e eu tinha-o sentido mesmo nesse último jantar. tinha sentido que seria o último. e, afinal, foi mesmo.
adeus, dorme bem, bons sonhos.
28.4.10
22.4.10
sinto a tua falta e tu não vens.
aproximei-me da janela ainda fechada e desejei como nunca ver-te a chegar. ver a tua sombra, ver o teu caminhar. esperei, esperei, passei muito tempo à espera. abri a janela, chamei por ti, fechei os olhos e gritei o teu nome. mais do que uma vez. cantei o teu nome à chuva, à luz e ao céu. a tudo aquilo que estava a acontecer. perguntei ás nuvens o que era de ti, perguntei às gotas que escorriam nos vidros da casas, perguntei às casas que deixavam com que essas gotas escorressem sobre elas, perguntei aos gatos escondidos debaixo dos carros e perguntei às pedras do chão: ninguém sabia, nada sabia. percorri com o olhar o território que me pertencia, todo aquele que eu via: nada, em parte nenhuma.
fechei a janela, que entretanto tinha aberto. subi as escadas do pódio dos sofridos, fiquei em primeiro. subi mais um pouco e saí ao terraço. em segundos houve uma fusão das tempestades que há pouco me pareciam tão distintas. abracei-me às nuvens e apertei-as muito de tanta raiva tinha da tristeza de tu não vires. juntei o meu corpo às nuvens que descarregavam no chão que também era eu, juntei-me às casas, aos gatos, às gotas, à chuva. descarreguei tudo em tudo. e também procurei por ti tão longe quanto podia fui até onde as nuvens se estendiam e até onde o vento - que era pouco nessa noite - me levou. cansei de procurar e de descarregar em mim própria o facto de tu não estares. deitei-me no chão cansado e gasto, cansada e gasta. a tempestade amainou e começou a amanhacer. veio o sol.
11.4.10
esperei.
como observei o sol e a sombra, cada dia do tempo em que tu estavas ainda para vir. como vi o ciclo repetir-se dia a dia. como fiquei sentada ali, naquele lugar que já se fartava da minha espera por ti. e observei mais uma vez a paisagem, com os olhos abertos. depois fechei-os, continuei a vê-la. estava já tão habituada. ouvi o silêncio pesaroso mais uma vez. vez essa que desejei ser a última. tapei os ouvidos, baixei a cabeça.
deixei-me cair, sem ver a queda.
quando vieres, já será tarde.
adeus.
30.3.10
28.3.10
agora imagina-a sem casas. sem estradas.
imagina que o teu carro deixa de existir, assim como todos os outros carros.
imagina que estás comigo.
imagina os campos, que te parecem não ter fim, sem cercas, sem impedimento algum.
imagina-te a correr até fartar nesses campos.
imagina-te a rebolar na erva fresca com o sol a bater-te em todo o corpo estendido.
imagina um charco livre de todas as impurezas, de todas as poluições.
imagina a frescura dessa água no teu corpo nu e quente.
imagina essa água limpa que te percorre o corpo e te chega à alma.
imagina a forma como boias nessa água.
consegues sentir a frescura?
consegues sentir que o mundo é nosso e que a brisa que percorre a sua superfície é parte da nossa respiração?
imagina que corres até ao mar.
imagina o mar.
imagina as ondas a bater na pedras e o mar a chamar por ti.
fecha os olhos, depois de leres isto.
diz-me se consegues imaginar um mundo onde és livre e onde não és condenado por nada. onde fazes o que sentes. imaginar um mundo onde fazer o que se sente é bom e não condenavel por ninguém, porque é o que cada um sente.
eu consegui.
23.3.10
dei por mim, hoje, a reviver episódios passados. era essa a razão da minha ausência para a realidade que vivo todos os dias. era essa a razão do meu não sorriso. há músicas que aconselho que não cantem ao pé de mim. aconselho e peço, por favor, peço bem alto e grande:
22.3.10
19.3.10
e, depois, fomos jantar a casa dos tios. depois de eu dizer que já vinha, nós fomos. e eu não estava lá, porque eu estou farta destas merdas. estou farta de não saber as coisas ou de saber demasiado. eu não quero nada disso.
deitei-me no quarto de minha prima que já tinha ido embora. deitei-me na cama de quem já não estava ali. e ninguém perguntou por mim, ninguém chamou, ninguém procurou. e essa foi uma daquelas alturas em que tu pensas assim: o mundo não se importa se eu estou ou não. as pessoas não notam a tua ausência, não sentem a tua falta. neste mundo já não há nada disso. e parece que nestes momentos as vozes ficam todas mais altas, ainda mais quando fechas os olhos e começas a sentir todo o teu corpo pesado e cansado de um mundo assim. é nessa altura do dia em que pensas que já não faz sentido estares viva porque isso não muda nada à tua volta. é nessas alturas que eu fico enervada. enervada porque não me chamam, por muito quieta que eu queira estar. enervada por pensar que não faz diferença eu estar ou não ali, no quarto, ou morta, numa cova. enervo-me por dentro e bato em mim mesma por pensar assim. e é nessas alturas que me apetece correr. correr muito muito muito. quando eu estou enervada não me canso. gosto de correr, faz-me sentir viva por sentir o meu coração a bater mais forte e por ouvir a minha própria respiração ofegante e por precisar de parar mas não o fazer e continuar sempre sempre. gosto de sentir o vento fresco na cara quente, e correr à chuva tem sempre um gosto especial, embora o faça poucas vezes. agora apeteceme correr, correr em frente e não para mais. correr para longe daqui, para longe de tudo. quero ir correr para o mar, quero correr mar a dentro.
hoje, apetece-me correr para longe daqui e não mais voltar.
12.3.10
9.3.10
5.3.10
tiraste-me de um tormento constante, de uma culpabilização interior que não se reflectia no exterior, de um poço vazio que parecia não ter fim, de uma queda do céu sem pára-quedas, de um frasco gelado, do meio de um conjunto de recordações que eram lembradas indevidamente porque me faziam viver no presente com uma ideia errada de um passado que não quis apagar por não ter um futuro certo, um passado que nem foi tão bom quanto isso mas que me fez acreditar que o futuro podia ser.
obrigada por teres conseguido fazer o que mais ninguém fez. obrigada por me deixares descansar nos teus braços, depois de tanta procura. obrigada, meu amor.
1.3.10
rita
não precisas de ir longe. às vezes o que procuras está tão à tua frente que nem consegues ver. como quando pões o livro muito perto da cara e não consegues distinguir as letras, sabes?
eu procurei, durante muito tempo, o que estava sempre ao meu lado. fui embora, procurei noutro lugar longe. provavelmente nós achamos que tudo tem que ser mais complicado do que é, de facto. mas não é, acredita em mim. não tens que virar mais esquinas. pára, olha à tua volta. pára a meio do dia e tenta ver. pára a cada segundo e pensa que quem te rodeia te quer bem e feliz. falo por mim, pelo menos. vais ver, rita, que nem tudo é tão mau como pensas, que os dias não são todos ventosos, que os dias não são todos frios e que há muitos dias de sol para vir. e eu quero trazê-los para nós. sempre que um dia te esteja a ser ventoso quando tu achas que não merece, quando nuvens injustas taparem o teu sol e a tua alegria e vierem derramar a sua carga negativa sobre ti, vem ter comigo. vem ter comigo porque, debaixo do meu casaco - seja ele qual for, daqueles que tu tanto gostas - há sempre um lugar para ti. debaixo do meu casaco há sempre um sol a brilhar para ti. debaixo do meu casaco há sempre uma força super especial que tentará afastar todas as tuas nuvens más e que tentará secar todas a gotas que cairam sobre ti. debaixo do meu casaco terás sempre um abraço sincero. terás sempre, para ti, dois braços abertos à tua espera, mesmo que o dia seja de sol.
não precisas de virar mais esquinas rita. a tua paragem é aqui.
28.2.10
26.2.10
21.2.10
20.2.10
agora, se estiver mais ausente deste meu novo lugar neste mundo virtual, não se assustem, não morri. se eu não estiver aqui é porque estou onde realemente importa.
a história já começou.