19.8.11



os tempos que ainda estão pra vir

já me trazem saudades

tento parar, só para poder ouvir

as falas da minha cidade


a cidade já se perdeu

por entre os passos que não dei

e depressa se arrependeu

dos caminhos por que me levei


observo, ao acordar

a cidade desfeita

que não me quer tolerar

que nem sequer me aceita

6.8.11

quarto 210

já perdi a conta dos dias de espera que por mim passaram.
estou sentada no sofá, já farto da minha forma, do meu cheiro e da minha espera.
espero uma resposta, um sinal teu.
tu que prometeste que estas paredes nunca iriam perder o amarelo vivo que tinham quando as nossas vidas mudaram inevitavelmente.
a máquina fotográfica empoeirada está montada no tripé, á minha frente, mas ainda não lhe mexi, acho que já perdeu a bateria por esperar por quem prometeu nunca sair, ou não demorar a voltar.
o amarelo vivo já desvaneceu e, junto ao tecto, é já meio cinzento de todos os cigarros que já fumei à espera da tua voz.
a minha alma morreu um pouco.
o chocolate, meio devorado por alguns bichos que entraram pela porta, que deixei entreaberta para ti, está cá. aproveita-se um pouco dele, se ainda apareceres.
as garrafas de favaios forram o nosso chão: bebi-as para tentar trazer-te de volta mas sem resultado.
a vontade de manter todo este cenário imaculado, tal como imaginámos, já quase esgotou porque a cada acordar eu podia verificar que a porta continuava entreaberta da mesma forma, as garrafas continuavam vazias, no chão, a máquina na mesma posição, esperançada como nunca poderei deixar de estar.
sinto a tua falta e tentei manter a linha que nos unia.
agora?
já não sei se a linha está unida ou não, infelizmente.
o quarto 210 perdeu o brilho.
sozinha não serei capaz de o manter e esta espera toda cansa e magoa.

voltas?