14.12.11
2.12.11
levava comigo uma mão cheia de nada e a minha alma pesava como se se tratasse de um fardo.
passei por ali, onde já nao estava o que, um dia, tinha procurado e encontrado, ali, naquela rua.
é agora inverno, tão diferente da primavera que aqui passei.
a rua esta vazia, como o meu olha preso àquele lugar.
as minhas mãos estão vazias.
as minhas mãos estão cheias de nada.
25.11.11
ligo o piloto automático desde que me lembro e muito poucas vezes há um gesto improvável.
quero abrir os meus braços e sentir o abraço do sol.
quero fechar os olhos e sentir o vento frio na cara.
quero percorrer o caminho com os pés descalços para que possa sentir este chão que piso.
quero inspirar e sentir em mim toda a natureza de toda a parte.
depois, abrirei os olhos e percorrerei tudo voando com a minha alma pelos meus cantos perdidos de mim. é isso que, por vezes, nos falta.
22.11.11
apareceste-me à frente e eu não te queria ver. nem pude escolher.
tive comichões nos pensamentos porque não me ocorreu a hipótese de te encontrar. eras o último que esperava ver ali.
por favor, quando voltares, avisa.
14.11.11
movo-me, no pouco esforço que faço de chegar ao chão para me apoiar.
não existe mais nada à minha volta.
tu foste e levaste contigo tudo.
passaste, rente à minha alma.
passaste, rente ao meu cheiro que quase mudaste.
passaste, rente ao meu corpo e fizeste-me suar de tanta força que fizeste para me arrancar o que era so meu.
fiz toda a que pude, porque o que é meu não podia passar a seu teu também.
balancei-me até ao chão, molhado, e ajoelhei-me, já sem forças.
um chão cheio de cacos e buracos e bocados de coisas que vivemos.
um chão que já não podia ter nada.
6.11.11
1.11.11
o melhor, é calar as palavras que sabemos certas naquele momento e amarra-las a um dos compartimentos do coração, de preferência ao mais movimentado, para que elas se deteriorem e nós esqueçamos que tivemos, um dia, a necessidade de as dizer travada.
calamos, então, favorecendo a situação dos outros mas nunca a nossa, que ficamos com o peso das palavras que não dissemos. que ficamos forçosamente entregues aos remorsos de não termos dito o que queríamos.
e a vida continua, independentemente das palavras que foram ou não ditas.
27.10.11
26.10.11
faz-me falta o amor que já vivemos, tão felizes sem dar conta.
fazem-me falta as palavras que guardo dentro de mim e que não solto nem por nada.
fazem falta as palavras que já soube de cor e que, agora, se desvaneceram da minha mente como se um vento gélido, da estação que se aproxima, aqui tivesse passado e me deixasse assim, de boca vazia e de coração murcho e seco, emaranhado em milhões de cordões feitos de pensamentos em branco.
é assim que me sinto, numa incerteza baralhada, misturada com memórias e desejos de futuros.
as palavras gastaram-se-me.
e agora, só me resta pedir que sigas a tua vida enquanto eu tento seguir a minha.
cheguei a muitas conclusões que constantemente acho erradas.
23.10.11
16.9.11
afonso
por vezes, temos que deixar ir, por muito que isso custe. já tentei muitas vezes fazê-lo contigo, tantas que nem sei já quantas foram. mais uma tentativa falhei e mais uma tentativa tenho para te mandar a baixo do trono onde sempre te tive, quase desde que te conheço.
gostava de perceber porque crescemos assim, quase sem dar conta e porque é que a nossa amizade não cresceu connosco. continua a dar-me os murros que dás na barriga de cada vez que não respondes, de cada vez que passas por mim a fingir não me ver. vou ter um dia de paz, um dia destes, e aí talvez perceba a razão dessa tua indiferença.
ainda gosto de ti, por isso quero que sejas feliz.
se tiveres que voltar, voltas, e eu cá estarei para te abraçar quando mais precisares.
se não, repito: sê feliz e tem uma boa vida.
19.8.11
6.8.11
quarto 210
estou sentada no sofá, já farto da minha forma, do meu cheiro e da minha espera.
espero uma resposta, um sinal teu.
tu que prometeste que estas paredes nunca iriam perder o amarelo vivo que tinham quando as nossas vidas mudaram inevitavelmente.
a máquina fotográfica empoeirada está montada no tripé, á minha frente, mas ainda não lhe mexi, acho que já perdeu a bateria por esperar por quem prometeu nunca sair, ou não demorar a voltar.
o amarelo vivo já desvaneceu e, junto ao tecto, é já meio cinzento de todos os cigarros que já fumei à espera da tua voz.
a minha alma morreu um pouco.
o chocolate, meio devorado por alguns bichos que entraram pela porta, que deixei entreaberta para ti, está cá. aproveita-se um pouco dele, se ainda apareceres.
as garrafas de favaios forram o nosso chão: bebi-as para tentar trazer-te de volta mas sem resultado.
a vontade de manter todo este cenário imaculado, tal como imaginámos, já quase esgotou porque a cada acordar eu podia verificar que a porta continuava entreaberta da mesma forma, as garrafas continuavam vazias, no chão, a máquina na mesma posição, esperançada como nunca poderei deixar de estar.
sinto a tua falta e tentei manter a linha que nos unia.
agora?
já não sei se a linha está unida ou não, infelizmente.
o quarto 210 perdeu o brilho.
sozinha não serei capaz de o manter e esta espera toda cansa e magoa.
21.6.11
14.6.11
8.6.11
hoje passeei na rua velha como se fosse nova.
como se fosse a primeira rua por onde passava.
com uma melodia antiga mas que me pareceu nova também.
e tudo me pareceu lavado.
a luz do sol poente mas alto, o alcatrão velho mas quase imaculado da estrada e a casa antiga mas acolhedora que sempre me trouxe à memória coisas boas de todos os tempos.
observei, à porta do meu lar, duas turistas que passavam devagar em direcção ao mar.
deve ser bom encontrar um sitio calmo como este para passar uns dias de reflexão, não acham?
e fiquei ao sol da rua, a fazer a fotossíntese para que o fim de tarde me corresse bem.
e correu.
1.6.11
30.5.11
26.5.11
carol, inês e francisca
23.5.11
19.5.11
o cheiro que eu adoro e que me faz mergulhar nas memorias de todos os meus Verões.
um cheiro que me apetece partilhar convosco, de alguma forma.
infelizmente, ainda não evoluíram os tempos para que, ao lerem o texto, consigam senti-lo.
mas acreditem, que, se tivesse possibilidade, guardava um bocadinho do cheiro dentro de uma garrafinha e levava-o para a vossa beira. embora estivesse descontextualizado, seria bom na mesma.
é o cheiro do por-do-sol do verão, o cheiro dos dias quentes, o cheiro das dunas.
e é lindo.
mesmo.
11.5.11
2.5.11
olho para ti, sentado na cadeira dura, desejando ser dono dela.
olho-te, do sofá meio vazio. o sofá que ressaca da tua presença. o sofá que quer ser teu como eu quero. como já quis.
olho-te de soslaio, combatendo os meus pensamentos que, ora te querem meu, ora não.
olho para ti, sentado desconfortavelmente numa cadeira dura que anseia carregar-te para sempre.
ambos sabemos que isso não acontecerá.
suspensos na cor pesada e no ar frio ficamos, pensando, afinal, o que vimos, um dia, em cada um de nós.
já nem o teu olhar vazio se enche, nem a minha silhueta, que deves ver meia apagada, se acende.
23.4.11
22.4.11
20.4.11
O homem invisível ainda acha possível
abrir sorrisos à sua passagem. Mas não é fácil.
É pouco provável que algum dia
alguém repare na sua viagem rumo aos corações.
É por gostar que sai ao encontro
de quem tem a certeza de um dia o ter visto.
Só pra mostrar que o que hoje se vê de si
é o que sobrou da sua vontade de entrar nos corações.
O homem invisível ainda acha possível
regressar da viagem com recordações
de sorrisos novos em velhos conhecidos que, por fim,
deixem navegar os sentidos ao sabor das emoções.
O homem invisível nunca teve a coragem
de enfrentar as coisas tal como elas são…
Mas quem pode dizer que aí não há a intenção
de ter das coisas, não aquilo que elas mostram,
mas o que de melhor maneira encontra o coração.
O homem invisível ainda acha possível
abrir sorrisos à sua passagem. Mas não é fácil.
É pouco provável haver alguém que um dia
o acompanhe na sua viagem rumo aos corações.
nuno prata
17.4.11
7.4.11
4.4.11
desabafo
28.3.11
24.3.11
Diz-me então porque é que o nosso amor leva sempre
tanto de nós
Não devia ser ele mesmo o nosso caminho?
E guiar-nos através da bruma
Não chegar a ser nem que só por um momento tão irreal
Sei que é uma coisa do meu eu
Coisas do meu eu
Na visão do meu ser
Vão até onde as consigo ver
Eu sei de um sentimento que é só teu
Eu projecto o meu momento que não se leu
Livre do teu eu
Na visão do teu ser
Vão até onde consegues ver
Nós podemos não ganhar
Mas o amor leva sempre a melhor
Mesmo que em sentido inverso
Deste nosso caminho
E nada nos podemos fazer
Enquanto o amor se deixar ser por um momento tão
irreal
Tão irreal, irreal
Já notei o tal feitio que é só meu
E eu concordo na mudança que não se deu
É medo de ser teu
Eu receio o teu sim
Se a certeza não souber de mim
E tu crês que essa coisa não é vã
Uma página marcada para ler amanhã
Também devoras o que é teu
Precisas do que é teu
E diz-me então se acreditas que é por termos dado
pouco de nós
Não podemos já daí tirar o novo sentido
Eu também não queria ver
O nosso grande amor ser nem por um momento tão irreal
Tão
27.2.11
11.2.11
3.2.11
25.1.11
18.1.11
dói de pensar que estiveste aqui. dói pensar que estavas e já não estás.
vem cá.
diz-me na cara que já não queres cá estar. beija-me e diz-me que o teu beijo não foi sincero. volta e diz-me, na cara, que já não és meu, que já não te sirvo.
volta.
volta e diz-me que já não me conheces. que já não me amas.
volta e usa-me já que não te sou nada. volta para me voltares a fazer sentir como merda que nunca deixarei de ser. volta para me dizeres que não vais voltar nunca.
mas, por favor, não tenhas a cobardia de não voltar. não digas que, ao não voltar, estás a ser forte porque ambos sabemos que isso não é verdade. volta para que eu te possa dizer que ainda te amo e para logo a seguir cair nos teus braços de tanta raiva que te tenho.
volta.
vais ouvir tudo aquilo que tenho para te dizer. volta para ouvires toda a merda que dizes que sou. volta para te deixares consumir por mim.
volta, que eu esperarei.
quando voltares, quando eu te disser tudo aquilo que eu tenho aqui para ti, então aí sim, podes ir. se ainda tiveres força para te erguer, como sempre tiveste. ergue-te como merda que nunca te disse que eras. essas coisas não se dizes.
ergue-te que, nessa altura, eu já desapareci.
14.1.11
caiu água do céu como eu nunca vira antes. caiu mais água do que aquela que o céu podia suportar. e, depois de cair, tornava a subir. muita água escorreu pela minha terra, que se foi desprendendo. pouco a pouco, a água deste céu tão sagrado, destruiu a minha terra pecadora. a minha terra, que sempre fora um local seguro. a minha terra, segura, onde construi a minha casa, o meu lar. a casa que acolheu toda a historia da minha vida. a minha casa que cedeu à força das águas que caíram do céu sagrado. o meu lar que não conseguiu manter-se em pé por causa do céu sagrado, da água sagrada que caía para logo a seguir subir e voltar a cair. o que me custou abandona-la. o que me custou perceber que o meu lar, seguro, deixara de o ser. o que me custou crer que a água do céu sagrado desfez o que eu construí com tanto apreço. e o que me salvou foram os vizinhos que nunca tinha tido o vagar de conhecer.
devo a minha vida a estranhos que, de repente, se viram responsáveis pela minha vida.
mandaram-me uma corda a que me agarrei com toda a força. aquele era a minha ultima oportunidade para viver. era a corda que me ligava à vida. tanta água que me arrastou com a sua força sagrada. tanta água que veio e quase me levou, quase quase. mas, no fim, a força que venceu foi a minha, foi a dos que não me conheciam.
unidos, conseguimos.
6.1.11
4.1.11
hoje, preferia não me ter despedido de ti, preferia não te ter apressado, apesar do teu atraso. preferia não te ter olhado, rapidamente, uma ultima vez. hoje, odeio as voltas que a vida deu porque levaram ao que aconteceu. olhei para ti, apressadamente, uma ultima vez que não adivinhava ser mesmo a ultima, e logo te olhei outra vez quando já tinhas deixado de ser tu. chamaram-me a atenção as voltas que a vida de alguém deu nesse momento. voltas essas, que a tinham feito não parar enquanto tu, distraído como sempre, avançavas na passadeira.
odeio as voltas que a vida dá.
e de pensar que fui eu que acabei com as voltas da tua vida, porque te mudei e disse que tinhas que estar a horas. para ti, era indiferente, sempre assim fora. mas tinha que vir uma volta na tua vida. tinha que vir eu para abanar o teu mundo que, num segundo, mudou, que num segundo, morreu.
eu fui a volta definitiva da tua vida.
eu fui a volta da tua morte.
espero que um dia me consigas perdoar por ter sido a volta que ninguém quer dar. eu sei, tenho a certeza, que daqui não há volta, que a tua vida não vai mais voltar. e, se a tua vida não vai mais voltar, porque não há a minha também de acabar?