25.1.11

eu sei lá o que é que sou!
sei lá como sou e porque assim sou!
e agora pedem-me que me descreva com meras imagens?
pedem-me, ainda por cima, que eu diga porque é que essas imagens me definem?
vão masé pentear macacos ou fazer festas a cactos!
dizer o que me define... vá-se lá entender porque é que alguém quer que eu lhe diga isso!
eu sou o que vês.
talvez mais, talvez menos.

18.1.11

pensar que ainda há pouco estavas aqui. pensar que ainda agora sinto as tuas mãos no meu corpo, os teus lábios nos meus e os nossos cabelos inevitavelmente misturados.
dói de pensar que estiveste aqui. dói pensar que estavas e já não estás.
vem cá.
diz-me na cara que já não queres cá estar. beija-me e diz-me que o teu beijo não foi sincero. volta e diz-me, na cara, que já não és meu, que já não te sirvo.
volta.
volta e diz-me que já não me conheces. que já não me amas.
volta e usa-me já que não te sou nada. volta para me voltares a fazer sentir como merda que nunca deixarei de ser. volta para me dizeres que não vais voltar nunca.
mas, por favor, não tenhas a cobardia de não voltar. não digas que, ao não voltar, estás a ser forte porque ambos sabemos que isso não é verdade. volta para que eu te possa dizer que ainda te amo e para logo a seguir cair nos teus braços de tanta raiva que te tenho.
volta.
vais ouvir tudo aquilo que tenho para te dizer. volta para ouvires toda a merda que dizes que sou. volta para te deixares consumir por mim.
volta, que eu esperarei.
quando voltares, quando eu te disser tudo aquilo que eu tenho aqui para ti, então aí sim, podes ir. se ainda tiveres força para te erguer, como sempre tiveste. ergue-te como merda que nunca te disse que eras. essas coisas não se dizes.
ergue-te que, nessa altura, eu já desapareci.

14.1.11

estava tudo tão calmo e, de repente, começou a água a correr.
caiu água do céu como eu nunca vira antes. caiu mais água do que aquela que o céu podia suportar. e, depois de cair, tornava a subir. muita água escorreu pela minha terra, que se foi desprendendo. pouco a pouco, a água deste céu tão sagrado, destruiu a minha terra pecadora. a minha terra, que sempre fora um local seguro. a minha terra, segura, onde construi a minha casa, o meu lar. a casa que acolheu toda a historia da minha vida. a minha casa que cedeu à força das águas que caíram do céu sagrado. o meu lar que não conseguiu manter-se em pé por causa do céu sagrado, da água sagrada que caía para logo a seguir subir e voltar a cair. o que me custou abandona-la. o que me custou perceber que o meu lar, seguro, deixara de o ser. o que me custou crer que a água do céu sagrado desfez o que eu construí com tanto apreço. e o que me salvou foram os vizinhos que nunca tinha tido o vagar de conhecer.
devo a minha vida a estranhos que, de repente, se viram responsáveis pela minha vida.
mandaram-me uma corda a que me agarrei com toda a força. aquele era a minha ultima oportunidade para viver. era a corda que me ligava à vida. tanta água que me arrastou com a sua força sagrada. tanta água que veio e quase me levou, quase quase. mas, no fim, a força que venceu foi a minha, foi a dos que não me conheciam.
unidos, conseguimos.

6.1.11

hoje sinto a tua falta. mais que nunca.
quando acordei já não estavas e passei todo o dia com o pensamento pesado.
será que estavas lá quando adormeci?

4.1.11

as voltas que a vida dá são tantas. e, hoje, preferia não ter dado as voltas que a que me obrigas, vida ingrata.
hoje, preferia não me ter despedido de ti, preferia não te ter apressado, apesar do teu atraso. preferia não te ter olhado, rapidamente, uma ultima vez. hoje, odeio as voltas que a vida deu porque levaram ao que aconteceu. olhei para ti, apressadamente, uma ultima vez que não adivinhava ser mesmo a ultima, e logo te olhei outra vez quando já tinhas deixado de ser tu. chamaram-me a atenção as voltas que a vida de alguém deu nesse momento. voltas essas, que a tinham feito não parar enquanto tu, distraído como sempre, avançavas na passadeira.
odeio as voltas que a vida dá.
e de pensar que fui eu que acabei com as voltas da tua vida, porque te mudei e disse que tinhas que estar a horas. para ti, era indiferente, sempre assim fora. mas tinha que vir uma volta na tua vida. tinha que vir eu para abanar o teu mundo que, num segundo, mudou, que num segundo, morreu.
eu fui a volta definitiva da tua vida.
eu fui a volta da tua morte.
espero que um dia me consigas perdoar por ter sido a volta que ninguém quer dar. eu sei, tenho a certeza, que daqui não há volta, que a tua vida não vai mais voltar. e, se a tua vida não vai mais voltar, porque não há a minha também de acabar?