30.10.10

quem disse que os dias não tem mais de 24 horas?
as 25 horas de amanha deviam ser celebradas de forma especial, segundo a segundo. sem cansaço, chatices e poluição. seriam as 25 horas mais felizes do mundo. faríamos deste dia de mudança de hora o dia universal do acto de festejar. e seriamos todos felizes, ainda que fosse só por 25 horas por ano. neste dia, estaria tudo perto, estaria tudo como cada um quisesse.
é de dias como este que vem amanha, depois da meia noite, que a humanidade precisa.

26.10.10

talvez por me sentir tão cheia de ti já não tenha que escrever.
as palavras já não saem porque, agora que olho para trás, as palavras eram apenas uma forma de mandar as lágrimas para fora sem humedecer os olhos e a cara.
há uns tempos, talvez já longos, dependendo do que cada um considera longo, eu chorava por dentro durante todos os minutos que notava passarem por mim. e tu vieste mudar isso. vieste encontrar-me no canto escuro do meu sofrimento que eu própria criava, apenas por ser como era e por pensar nas coisas como pensava. vieste, viste-me, deste-me a mão para me levantares do chão. puseste-me a admirar um céu azul que eu pensava já não existir. ergueste-me a cabeça, limpaste as lágrimas à minha alma e fizeste-me subir ao céu. fizeste-me mergulhar naquele azul tão intenso e calmo que eu já não achava possível. vieste e limpaste-me o que tinha sujo, mesmo sem te aperceberes do que fazias. acendeste um fosforo dentro da minha cabeça e depressa a sua pequena luz iluminou também o meu coração. e depressa me tornei tua, mesmo se tu não quisesses. porque foste tu que me obrigaste a deixar de olhar o chão, foste tu que, com o todo o teu jeito, me fizeste acreditar mais em mim. foste tu que me fizeste o que sou agora, mesmo que digas que só mudei porque quis. eu quis por ti, porque vale a pena mudar por ti. foste, e ainda és, o anjo que me tirou do canto escuro e que não me deixa lá voltar, mesmo quando apetece.
por isso é que sinto que não te dou nada, porque tu me dás tanto às vezes ajo como se não bastasse. perdoa-me por isso.
como disse um dia Raul Solnado:
'há dois tipos de discurso: curto e comprido. o curto é: obrigado. o comprido é: muito obrigado.'
aplico-te o mesmo porque não sei que mais posso dizer a não ser: muito obrigado

9.10.10

posso não acreditar sequer em Deus, mas tenho algum respeito no que toca ao assunto. respeito quem acredita, respeito quem defende. mas não posso respeitar alguém que diz que acredita Nele e que segue as Suas regras quando a maior parte das coisas que faz é desrespeitá-las. e conheço-te suficiente bem para saber que das Suas 10 regras tu não respeitas nem metade. tu fazes a merda toda e depois esperas o Seu perdão? tu roubas, bebes mais que a conta, fumas, és guloso, não controlas os teus pensamentos, fazes sexo por prazer, trais a confiança de quem tu chamas amigos, usas o nome de Deus em vão. não chega? queres perdão por usares e abusares da vida? achas que o mereces? e fazes suposições do que eu ou quem quer que seja pensa ou faz. dizes que não me aproximo de ti inconsciente e involuntariamente? achas mesmo? eu não me aproximo de ti porque já tiveste todas as oportunidades que merecias, tiveste ainda mais que isso. e eu deixei-me abusar demais, não só por ti, mas por todos os que me magoaram até hoje. não me venhas falar em perdão quando foi isso que eu fiz até hoje, e ainda o faço, por erro meu ou não. só que contigo já aprendi. a tua amizade não é nada. é uma amizade oca e que só te serve quando precisas. por isso, guarda-a para quem quiseres, não tentes mais gasta-la comigo. continua a tua vida que, quer queiras quer não, é de pecador, não interessa quantas vezes pedes perdão. porque eu sei que não sou Deus, mas, para mim, já basta de perdão. foram já demasiadas vezes. e não me basta que me cantes uma canção ou que me digas um poema para ficares outra vez no estatuto que estavas.
pensa no que dizes , fazes e escreves. nos nomes que evocas. pensa se os conheces mesmo e não precisas de os conhecer muito para saber que quebras muitos dos seus princípios básicos.
cresce.
cresce mas não me apareças mais.

8.10.10

ás vezes tenho medo que me deixes. tenho medo de fazer alguma coisa de mal sem querer. és tão especial que sou capaz de tudo para te ver feliz. sou capaz de tudo para te proteger, mesmo sabendo que, para mim, é sempre dificil fazê-lo por tu seres tu. e, quando penso que estou a fazê-lo correctamente, afinal não estou, só estou a fazer mal. perdoa-me meu amor, que não mereces nada de mal, que não mereces as minhas más atitudes. juro por tudo que não faço por mal. nunca me deixes, nunca me esqueças porque eu nunca o farei.
até já

5.10.10

Fora tu,
reles
esnobe
plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas
Charlatão da sinceridade
e tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro
Ultimatum a todos eles
E a todos que sejam como eles
Todos!

Monte de tijolos com pretensões a casa
Inútil luxo, megalomania triunfante
E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
Que nem te queria descobrir

Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular
Que confundis tudo
Vós, anarquistas deveras sinceros
Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
Para quererem deixar de trabalhar
Sim, todos vós que representais o mundo
Homens altos
Passai por baixo do meu desprezo
Passai aristocratas de tanga de ouro
Passai Frouxos
Passai radicais do pouco
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa
Descascar batatas simbólicas

Fechem-me tudo isso a chave
E deitem a chave fora
Sufoco de ter só isso a minha volta
Deixem-me respirar
Abram todas as janelas
Abram mais janelas
Do que todas as janelas que há no mundo

Nenhuma idéia grande
Nenhuma corrente política
Que soe a uma idéia grão
E o mundo quer a inteligência nova
A sensibilidade nova

O mundo tem sede de que se crie
Porque aí está apodrecer a vida
Quando muito é estrume para o futuro
O que aí está não pode durar
Porque não é nada

Eu da raça dos navegadores
Afirmo que não pode durar
Eu da raça dos descobridores
Desprezo o que seja menos
Que descobrir um novo mundo

Proclamo isso bem alto
Braços erguidos
Fitando o Atlântico

E saudando abstractamente o infinito."

Álvaro de Campos

Fernado Pessoa