27.11.10

saí de casa. nenhum objectivo certo, apenas andar até me apetecer.
caminhei por caminhos tão cheios de promessas quebradas, tão cheios de sonhos espezinhados.
e fui andando, percebendo que a minha cidade não é bem esta. a minha cidade-casa não é aqui, porque aqui eu ando e nada me prende. eu podia ter andado sem parar e nada me impediria. a minha cidade não esta. andei, observando o chão, como fui habituada a fazer, não olhando à volta porque, se me distraía podia cair. andei. andei quase tanto quanto era preciso para que os pés me doessem. não chegaram a doer, por isso acho - tenho quase a certeza - que não cheguei onde queria. nesta minha cidade, forçosamente minha, as memorias surgem de todos os cantos, quase frescas. e, quando dou conta, já passaram há muito, eu é que ainda as pensava cá. as pessoas que por aqui conheci estão recolhidas nos seus novos mundos, com todo o direito. estão recolhidas nos seus novos mundos que já pouco têm a ver com o meu. mas não são só elas que o fazem, sei disso, não as posso culpar, elas não têm culpa. ninguém tem. cada um cresce à sua maneira e ritmo. mas tenho algum medo que elas não saibam que ainda fazem parte do meu mundo. os minutos do futuro serão sempre as memorias do meu passado. elas tem a sua parte. mas já não estão cá. existem mas não estão, como diz a carol. e dói-me saber que o meu mundo está noutro sitio hoje. e por muito que me digam que é uma fase, por muito que me digam que... sei lá! o que disserem... não me conformo. porque eu quero ser o que era, ser outra, ser melhor do que sou. queria... sei lá. quero tanto coisa que me escapa o que sou. entre idas e vindas sei lá de onde, perco-me em pequenos recantos onde não me importava de ficar perdida para sempre.
hoje preciso de mim, mas eu não estou cá.
pergunto-me se existo.

25.11.10

entrou-me um raio de um trovão em casa, pela chaminé da cozinha. destruiu tudo em quanto tocou e por pouco não me atingiu a mim, por pouco não me deixou estendida no chão, inerte, imóvel.
entrou um raio de um trovão em casa, pela chaminé da cozinha, e isso trouxe a nostalgia de uns tempos passados que desejava não existirem.
entrou um raio de um trovão pela chaminé da cozinha que me fez lembrar de ti, nas noites em que chegavas, já tarde, quase de dia. fez-me lembrar da tua pessoa alterada pelas substancias que a raça humana teve necessidade de inventar para se tornar mais - ou menos - humana. da mesma maneira que o raio do trovão me destruiu o telefone, as jarras de flores que gosto sempre de ter, também tu destruíste o que me levou quase a vida inteira a reunir. as fotografias da nossa vida aparente e momentaneamente feliz e paradisíaca, penduradas um pouco por todas as paredes, deitadas ao chão. todas.
entraste em casa, bateste com a porta, e logo aí me acordaste. fizeste gestos que nunca assumiria como teus. tu estavas ali, mas não eras tu. entraste, irritado, e amaldiçoando alguma coisa que nunca cheguei a perceber o que era. acendi as luzes e tu estavas encostado à porta da sala, pendurado na porta da sala. acendi as luzes todas, apesar de me custar abrir os olhos. lançaste-te na minha direcção, cambaleando furiosamente, grunhindo com ódio e eu não percebia o porquê. o porquê do teu ódio, o porquê de estares assim. lançaste-te a mim, agarraste-me como nunca me tinhas agarrado. tu querias usar-me. usar-me como tinhas prometido que nunca ias usar, usar-me como um objecto que está lá para ti. começaste querer tirar-me a roupa mas eu não queria. eu não queria ser o teu objecto de diversão, muito menos estando tu no estado em que estavas. atiraste-me para o sofá e caíste em cima de mim. e eu disse para mim mesma: 'não vais deixar isto acontecer'. empurrei-te para o chão. 'não quero ser usada por ti' gritei eu com toda a força que tinha. gritei uma e outra vez. e tu, tentavas sempre usar e abusar de mim sem eu querer. empurrei-te para o chão com mais força ainda. com a força suficiente para que tivesse tempo de me levantar e sair dali antes que tu tivesses tempo de me agarrar novamente. fugi para o quarto, fechei-me lá dentro. ouvia a casa calma, como depois do raio me ter entrado na chaminé da cozinha. ouvi todo o silencio que a casa carregava. esperei que se fizesse dia, já que não faltava muito. não te ouvia, não te sentia. saí do quarto. não estavas à porta, não estavas no corredor. comecei a sentir um arrepio espinha a cima. entrei na sala, ainda com todas as luzes acesas, e por fim vi a razão daquele silencio, de toda aquela calmaria.
estavas tu, livre de toda aquela raiva que trazias. estavas tu, livre de todas aquelas acções que não te eram normais. estavas vazio daquilo que tinhas sido, há poucos minutos, daquilo que sempre foste. tinhas um fio de sangue a sair-te da boca, um rio de sangue a sair-te da cabeça inanimada. e eu via que faltava um bocado da nossa mesa de vidro que eu não gostava nada mas que tu adoravas. cheguei ao pé de ti, na esperança que fosse só mais uma das tuas partidas de muito mau gosto, mas não. toquei-te com muito receio de que acordasses e fosses o mesmo e há pouco, com muito receio de que estivesses muito frio e que não voltasses a acordar.
estavas frio. frio como nem as minhas mão ficavam quando andava com as mão fora dos bolsos no inverno. larguei uma lágrima. outra. outra. outra. muitas, seguidas.
tive que te dizer adeus de uma forma má.
e o que me custou mais, foi que tu te despediste de mim de uma forma que eu nunca vou esquecer por ter sido tão má.
despediste-te quebrando a tua maior promessa.
adeus, que este adeus é merecido.

23.11.10

os meus amigos começam, pouco a pouco, a ser aqueles que estão para tirar a carta, à porta da escola de condução. aqueles seres enormes e inatingiveis, já quase sou um deles.
agora, tanto quero ser mais do que eles como menos. tanto quero ter a minha idependencia como quero ser pequena outra vez.

22.11.10

hoje, quando cheguei a casa e amarrei o cabelo a olhar para o espelho, senti-me 12º ano.
agora, será bom ou não?

19.11.10


'next time
there'll be no next time
i apologize even though i know it's lies
i'm tired of the games
i just want her back
i know i'm a liar
if she ever tries to fucking live again i'm gona tie her to the bed and set this house on fire'

18.11.10

porque é que tenho uma lágrima no canto do olho?

13.11.10

tinha aqui uma imagem que tenho a certeza que ia ficar bem aqui mas não tive coragem de a procurar.

10.11.10

hoje sonhei que podias desaparecer um dia.
sonhei que tinhas ido, que alguém te tinha levado e que me tinha deixado sem ti. que me tinha deixado a mim e ao teu filho sem ti. procurei por muito sítio, todos os sítios possíveis e impossíveis. onde eu tinha quase a certeza que irias estar e onde eu achava que nunca te encontraria. nada. não te encontrei, nem ao teu olhar, nem ao teu abraço. tinha a nossa vida toda a passar-me à frente, todos os momentos. e tu já não estavas ali, deitado ao meu lado, a dormir que nem um anjo que és. levaram-te e eu sem saber para onde. o mais complicado foi explicar ao nosso filho que te tinham levado e que não sabia onde estavas. ouvi-lo a perguntar-me o que eu não tinha coragem de admitir que me perguntava.
mãe, o pai morreu?
e eu respondia que não, que isso não ia acontecer tão cedo. mas ele insistia.
mãe, fui eu que fiz mal ao pai e por isso é que ele foi embora?
não, não, não. dizia eu. não tens culpa nenhuma. mas ele insistia em dizer que se não te tinham levado pelas asneiras dele, então porque tinha sido? que mal é que ele tinha feito á vida?
e eu perguntava-me o mesmo. o que seria que eu tinha feito de mal para que me tirassem umas das coisas que mais amava? tu não estavas ali. fui à nossa casa na esperança de te ver deitado na nossa cama. nada. não estavas. doeu-me tanto. porque não sabia que pensar. tu já não estavas comigo e, por muito que eu quisesse, não podia ter a certeza que ias voltar. e o nosso filho, que lindo que ele é. vê-lo assim, daquele jeito verdadeiramente amargurado que têm as crianças.
chorei, chorei. chorei pela tua ausência forçada. pela vida que ainda não tínhamos vivido.
acordei.
e vi-te.
amo-te tanto.
nunca me deixes.

7.11.10

Don't tell me that your throat is getting tight
Change your name and find a job
Marry Jenny in the spring
Buy a dog and call him Pete
Push the children on the swings
Think about me now and then
Try to find a peaceful space
Count the days as they go by
Count the lines upon your face
Your heart beats quick and strong
Your mind pores over it all
Don't worry because no one saw me fall


jenny again





obrigada carol :)

6.11.10

as vezes gostava de poder ser mais como todos os outros da minha idade.
dói-me cá dentro, dói muito. dói-me não poder ser como os outros, que têm a liberdade que têm sem que lhes cortem os sonhos e os pensamentos. porque é isso que me parece que me fazem.
todos os dias que por nós passam passam uma vez, e é preciso manter isso na cabeça.
vou fazer 17 anos, sei que para alguns não é muito, mas, para mim, é uma vida inteira já.
já tenho noção que o tempo passa muito rápido. e, por isso mesmo, devemos aproveitar a vida a cada minuto porque nunca mais teremos a juventude que temos hoje. o que é certo é que não mo deixam fazer, não me deixam aproveitar o que me deram, o que é meu por direito. não me deixam aproveitar o tempo como eu gostaria de o fazer, nem por um dia sequer.
não me deixam celebrar, da maneira que eu quero, com quem eu quero.
assim nem vale a pena tentar nada.
pois não?